A língua é um órgão muscular que auxilia na mastigação, na deglutição, na articulação da palavra e na percepção do gosto das substâncias colocadas na boca.


Sociedade diz não à CSU em sessão especial na Assembléia

27/07/2010 20:35



Se a Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU) for construída em Anchieta vai faltar água no município, em Guarapari, Piúma e Iriri. A informação foi dada na sessão especial marcada pelo deputado Euclério Sampaio (PDT), na Assembléia Legislativa, por praticamente todos que subiram à tribuna da Casa. Em uma sessão lotada, o que se viu foram algumas dezenas de impedimentos, além da indisponibilidade hídrica, que inviabilizam o empreendimento no âmbito ambiental, social e econômico para a região.

Segundo o advogado e ambientalista Nelson Aguiar, a água já faltou em Guarapari e Anchieta e promete faltar mais quando a CSU se instalar na região. Ao todo, a siderúrgica irá consumir um terço da água do rio Benevente, que já se encontra degradado e com áreas com apenas 43 centímetros de profundidade.

Além disso, a CSU pretende contratar, segundo seu Relatório de Impacto Ambiental (Rima), 18 mil trabalhadores para a fase de instalação do empreendimento. Mas, na prática, a previsão é que cheguem mais de 20 mil trabalhadores à região em um município com apenas 17 mil pessoas (incluindo crianças, adultos e idosos). E nenhuma ação para subsidiar a chegada dos trabalhadores foi tomada no município. A previsão é que falte escola, hospitais e sobre violência, tráfico de drogas e favelização em Anchieta.

Para o advogado, a entrada da CSU em Anchieta, que já atingiu os limites máximos de poluição do ar, representará o despejo no lixo pelo Governo do Estado, dos direitos de toda uma nação.

“A Vale, na sua fase de ampliação, pagou R$5 milhões à Serra, mais R$5 milhões a Vila Velha e mais cinco a Vitória. Eles anteciparam o princípio de o poluidor pagador, ou seja, estão pagando antes para depois rirem às custas do meu pulmão, dos nossos pulmões. Isso sem falar nos outros prejuízos”, ressaltou Nelson Aguiar

Durante as falas, a postura do governo do Estado e do Iema foram constantemente ressaltadas. A aprovação da Jurong, em Aracruz, que irá destruir uma área de relevante importância ambiental; a manipulação das empresas sobre os Conselhos de Meio Ambiente; a criminalização dos movimentos sociais; a postura do governo na saúde e segurança que se reflete também no meio ambiente; o uso de dinheiro das grandes empresas nas campanhas eleitorais; entre outros.

Para os presentes, a ausência da Vale, da  Secretaria Estadual de Meio Ambiente; do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema); Cesan e também do prefeito de Anchieta, é o reflexo do descaso com a população desde o início do processo de implantação da CSU.

A informação é que a Vale realizou um seminário, marcado às pressas, na mesma data do debate promovido na Ales. No evento a Vale ressaltou o desenvolvimento que, segundo ela, será promovido pela construção de uma siderúrgica em Anchieta.

“O governo está empenhado para instalar a CSU ali. Provavelmente estão todos em Anchieta agora, no tal seminário. Mas, vem aí o processo eleitoral  e com informações retiradas do Tribunal Regional Eleitoral vou mostrar por que a Vale pode contar tanto com os políticos”, disse o advogado e ambientalista Nelson Aguiar, fazendo referências 1as contribuições das grandes empresas em campanhas eleitorais no Espírito Santo.

O não comparecimento do poder público e da Vale à reunião com a sociedade foi bastante criticada. Para o pastor Álvaro de Oliveira, da Assembléia de Deus, “toda loucura que vem ocorrendo no planeta é resultado da falta de compromisso”.

Apesar do claro apoio do governo e da influência da Vale em todo o País, os ambientalistas se mantiveram firmes e se mostram cada vez mais fortes. Segundo Bruno Fernandes (foto abaixo), do Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), apesar de o governo do Estado “manter em suas mãos vários poderes e possuir um braço em Anchieta, que é o prefeito Edival Petri, a população não vai se furtar ao direito de lutar por direitos legítimos”.

Em relação à geração de empregos, que a Vale utiliza inclusive como carro chefe de sua propaganda, o discurso da população é categórico. Nem a população nem os empresários da região querem a cidade invadida por trabalhadores de fora, que, após a fase de instalação, engordarão os bolsões de miséria, os índices de violência e trafico de drogas.

Só em Guarapari, alerta Bruno, houve 80 homicídios dolosos registrados no ano de 2008. “Sofremos com o inchaço da Samarco e não queremos passar por isso de novo”, ressalta a população.

A informação questionada na sessão foi a de que em lugar nenhum do planeta são aceitos projetos siderúrgicos na área litorânea e que em Anchieta não deveria ser diferente.

“Eu nasci em Anchieta, sai para trabalhar e quando voltei para terminar minha vida olhando aquela praia linda fui surpreendida com o pó da Samarco. Hoje limpo a casa pelo menos duas vezes e sou obrigada a utilizar uma bombinha duas vezes ao dia por recomendação médica”, ressaltou a prefessora da Emescan, Maria Helena Rauta.

Chapada do A

Quem tinha dúvidas sobre a rejeição da comunidade de Anchieta sobre a instalação da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU) da Vale no município, agora, não tem mais. Em sessão especial na Assembléia Legislativa, o que se viu foi a união de cerca de duzentos moradores de Anchieta e municípios vizinhos contrários à instalação do empreendimento e em apoio à comunidade da Chapada do A, bairro ameaçado de desaparecer caso a CSU seja construída na região.

Segundo os moradores do bairro, a pressão na região é intensa. “Recebemos visitas do Grupo Idéias contratado pela Vale e eles afirmam com toda a certeza que a CSU irá se instalar e, portanto, temos três alternativas para deixar a região”, diz a representante da Associação de Moradores da Chapada do A.

As três alternativas apresentadas pela Vale aos moradores descendentes de indígenas que há gerações vivem na Chapada do A são: a compra de uma casa nova, a realocação da comunidade em uma nova área em Anchieta  ou indenização em dinheiro.

Além das alternativas, os representantes da Vale na região estão invadindo a privacidade das famílias. Ao se depararem com a negativa de vender o imóvel de proprietários idosos, o Grupo Idéias está buscando a solução com filhos e netos dos proprietários, gerando constrangimento e conflitos dentro das famílias.

Uma senhora de 79 anos foi uma das vítimas deste golpe e disse que ficou ofendida com a invasão dos representantes da Vale. “Eles não respeitam a nossa decisão e começam a interferir em nossas vidas”, contou ela, que teme se identificar. O receio, inclusive, é um dos sentimentos mais vistos entre a população, que classifica a ação da empresa na região como coação.

À sessão especial promovida a pedido do deputado Euclério Sampaio (PDT), na noite dessa quarta-feira (18), por exemplo, nem deputados nem representantes da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e nem a Vale compareceram e o que deveria ser um debate entre as partes se tornou um local de desabafo e de questionamentos contra os desmandos do governo do Estado na área ambiental.

“Eles não respondem aos nossos questionamentos. Pelo contrário, querem deixar claro que não temos força perante a construção da CSU, que por eles é colocada como fato”, desabafou um morador de Piúma que teme se identificar. Ele se diz sensibilizado com a situação da comunidade Chapada do A.

  

—————

Voltar